20.8.08

ENTREVISTAS E DEPOIMENTOS

“Dar Palco e Dar Voz às Memórias”
“A memória não é entendida como lembrança estática, como o é a história, mas antes conduzida por grupos e pessoas e, por isso, susceptível a mudanças, deformações e manipulações”

“A memória, individual ou colectiva, é necessária à actualização da percepção da realidade, e é o que torna possível a compreensão das transformações operadas na sociedade”

“… é preciso reconhecer que as memórias individuais são construídas a partir de vivências que os sujeitos experimentaram no curso de suas vidas, no interior de grupos sociais”

“A trajectória de vida de cada entrevistado é a porta de entrada para a realização da leitura dos depoimentos, que devem ser reorganizados cronológica e coerentemente


Maurice Halbwach, Memória Colectiva

HISTÓRIAS DE VIDA
. Nossos “xamuares”- o que é feito deles?

Os testemunhos recolhidos contribuem para legitimação e sustentação de um dinamismo cultural, partindo do individual para o colectivo, sedimentando assim a construção de comunidade.

A comunidade Goesa nas suas origens, a Terra-mãe, Mãe Dês, ou na diáspora têm optado pela transmissão geracional de princípios, valores e práticas culturais, notoriamente com fundamento religioso. Diria que a base de sustentação do Goês Católico é a Igreja (religião), a tradição e a família.

Em Moçambique, Portugal ou em qualquer outro local do mundo, o Goês católico é o transmissor para os seus descendentes dos princípios do catolicismo e dos paradigmas tradicionais herdados, num processo permanente de auto-identificação.


É forte a sua relação com o passado. As memórias não se constróem sem a colaboração dos círculos de sociabilidade em que o indivíduo está integrado e com os quais partilha experiências, afectos e vivências. A memória é eminentemente social e precisa de âncoras, de pontos de apoio para se estruturar e manter activa.
Sem isso, como Maurice Halbwachs, (sociólogo) os indivíduos não conseguem recordar, ou as suas memórias vão sendo cada vez mais diluídas pelo decurso do tempo.
As comunidades emigrantes sentem uma real necessidade de manter vivas as raízes, as imagens, as tradições e o passado colectivo, marcantes da sua identidade comum.
Apesar de inseridos, ainda que adaptados a uma sociedade ou cultura diferenciadas da sua, as memórias decorrentes, não são espontâneas, necessitam de signos, objectos, lugares de encontro, espaços de convívio e de sociabilidade. Manter vivas as tradições, os hábitos da gastronomia à indumentária.

Tem sido este trajecto da comunidade católica goesa, enquanto diáspora, numa relação secular de proximidade que vem mantendo a sua identidade cultural.

Extractos de algumas Histórias de Vida farão parte deste nosso projecto e que publicaremos no nosso órgão de informação ao longo da vigência desta Comissão Organizadora.

Eis os nossos entrevistados :

1 - Carmino Fernandes
2 - Nicolau Silva
3 - Natividade Estrócio

4 - Claudio Sousa
5 - Vasco Fernandes
6 - Wilfredo Silva
7 - Francisco Henriques

JOSÉ FRANCISCO HENRIQUES

NOME: JOSÉ FRANCISCO HENRIQUES
IDADE: 57 ANOS
PROFISSÃO: MÉDICO VETERINÁRIO

AR -
Quer contar-nos o seu percurso de vida de uma forma sucinta ?
JFH - Nasci na Beira em 06/08/1951 e vivi durante 1 ano na Manga. Depois fui viver para as casas de madeira que havia na praia dos Pinheiros, entretanto derrubadas pela erosão.
Vivi na Beira até aos 7 anos (08/1958), tendo depois passado sucessivamente por Vila Cabral (08/1958-06/1961), João Belo (06/1961-06/1967), Nampula (08/1967-09/1972) e Lourenço Marques (09/1972-12/1977).

AR -
Quais os motivos que o levaram a fazer esse percurso?
JFH - Este percurso pelos vários Distritos de Moçambique foram feitos em virtude de o meu pai ser funcionário público e estar sujeito a transferências periódicas.

AR -
Que dificuldades encontrou no país de acolhimento? (datas e local )
JFH - As dificuldades naturais resultantes duma mudança; recém casado e com a esposa grávida, a qual teve de mudar-se para Lisboa por motivos profissionais, para poder ser integrada em Portugal, na Companhia onde trabalhava, sob pena de perder o emprego. Esteve sozinha 8 meses. A minha chegada a Portugal ocorreu em Dezembro de 1977, sem casa e sem emprego, este por um período de 2,5 anos com todas as dificuldades daí decorrentes. Felizmente todos os problemas se resolveram com o tempo.

AR -
Lembra-se de algum acontecimento especial e marcante que queira revelar e partilhar connosco?
JFH - Foram 2 os acontecimentos que me marcaram:
Primeiro, o nascimento da minha filha em Setembro de 1977 visto eu não estar em Portugal e a gravidez da minha mulher ser de alto risco, não só por estar sozinha mas também por motivos clínicos; foi uma gravidez acompanhada à distância e só conheci a minha filha com 3 meses de idade.
Em segundo lugar o grave problema de saúde do meu filho ( leucemia), com 5 anos que nos obrigou a enfrentá-la com muito pensamento positivo porque as informações sobre como lidar com a doença eram escassas; mas com o apoio de todos os familiares e amigos e com a força de vontade de viver do Joca (o meu filho) conseguimos ao fim de 10 anos ultrapassar estes tempos muito difíceis.

AR -
Concretamente na cidade da Beira onde morava e trabalhava, quer relatar-nos um pouco do seu quotidiano?
JFH - Vivi 6 meses na Manga e depois mudei-me para a praia dos Pinheiros onde estive até aos 7 anos de idade. Foi uma vivência curta mas que me permitiu beber a água do Chiveve, e quem a bebe nunca mais pode esquecer a Beira.

AR -
No seu imaginário, quais as marcas ou símbolos que lhe causam alguma nostalgia?
JFH- O Grande Hotel que conheci no auge da sua grandeza e a Escola Eduardo Vilaça onde fiz a 1ª classe.

AR -
Lembra-se de algum objecto ou fotografia que o acompanhou desde sempre e porquê?
JFH - As fotografias tiradas ao vivo no Parque Nacional da Gorongosa em 1972 numa viagem de estudo da Faculdade de Veterinária de Lourenço Marques.

AR -
É uma pessoa de fé?
JFH - Sou

AR-
Quando chegou a Portugal, o que sentiu comparativamente aos locais por onde passou?
JFH - A grande diferença que senti foi no comportamento das pessoas; nós os moçambicanos e especialmente os beirenses somos muito fraternos, abertos, amigos dos nossos amigos, o que não acontece aqui em Portugal;
Não sei se as coisas mudaram, mas já me adaptei à realidade portuguesa.

AR -
Sendo o seu percurso Goa, Moçambique, Portugal, quais as semelhanças e diferenças comportamentais que sentiu na comunidade?
JFH- Vivi em Moçambique e em Portugal, mas sendo os meus pais oriundos de Goa tenho visitado aquele antigo torrão português com alguma frequência, não só por ainda ter familiares, mas também porque me sinto bem naquela terra por ser um local muito aprazível para férias e a gastronomia ser também muito do meu agrado.

AR -
Culturalmente sente grandes diferenças? Que memórias estão associadas à sua origem e hábitos culturais ( quer na fé, no culto, na gastronomia, modo de vida, indumentária, tradições)?
JFH - Não sinto grandes diferenças embora elas existam..
Como faço parte do Grupo Ekvât da Casa de Goa procuramos divulgar em Portugal e no estrangeiro (por convite) a música, a dança e a cultura de Goa; o grupo comemora este ano 20 anos de existência e vem realizando uma série de iniciativas que podem ser consultadas no site do grupo. (www.ekvat.org)

AR -
Que festas importantes se recorda de Goa?
JFH - Como não vivi em Goa não tenho nada para vos transmitir.

AR-
E na Beira? Quer descrever?
JFH - Saí muito cedo da Beira, aos 7 anos para poder contar as minhas experiencias na Beira.

AR -
Gostaria de revisitar esses lugares nomeadamente a Beira ?Porquê?
JFH - Gostaria de lá voltar, mas num grupo de beirenses, para que a viagem fosse mais agradável.

Entrevista conduzida por:

AR
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Wilfredo Cruz da Silva

Nome- Arnaldo Wilfredo Cruz da Silva


Natural da Beira
Nascido em 14 de Setembro de 1934
Residente na cidade de Santarém


Arnaldo Wilfredo da Silva nasceu na cidade da Beira no dia 14 de Setembro de 1934 na Avenida da República, em frente ao Hotel Vitória.
Iniciou os seus estudos na Escola Eduardo Vilaça em 1941 e terminou a escola primária em 1945. Daí partiu para Lourenço Marques onde foi estudar para o Liceu Nacional Salazar até 1948,completando nesse ano o 2º ano. Regressou à Beira para continuar os estudos no Colégio dos Maristas onde concluiu o 5º ano. De novo rumou para LM em 1953, desta vez para frequentar o 6º e o 7º ano.
Em 1953 parte para Lisboa. Ingressa na Faculdade e em Dezembro desse ano termina o 1º ano de Biologia.
No ano seguinte opta pelo Curso de Farmácia . Quando frequentava o 3º ano é chamado a cumprir o serviço militar. Terminada a recruta é destacado para o regimento de Infantaria e mobilizado para Angola. Cumprido o tempo regulamentar, regressa em 1964 a Lisboa.
Na capital emprega-se numa associada da CUF e em 1966 conclui o Bacharelato em Farmácia.
Transferido para o Porto em 1967, casa-se em Alcobaça com D. Fernanda Amaral e no ano seguinte parte para a Beira.

Em 1969 trabalhou na Farmácia Nacional na baixa e deu aulas nos Maristas no Macuti . Em 1970 abriu a Farmácia Académica no prédio Reais Pinto, junto ao café Nicola em Matacuane. Em 1974 até 1976 deu aulas na Escola Comercial e Industrial Freire de Andrade.
O gosto pelo desporto nasceu no CRIP, onde tem grandes e boas recordações .
Praticou futebol e badminton no CRIP (onde foi treinado pelo Sr. Flaviano da Silva), basquetebol no Sporting da Beira, ténis de mesa e futebol de salão nos Maristas .
Esteve em Goa de passeio quando tinha 4 anos e lembra-se dos arrozais, palmares e dos búfalos domésticos .
Na Beira recorda-se das festas de S.Francisco Xavier que se realizavam em Dezembro no Oriental e das festas dançantes do CRIP muito animadas abrilhantadas pelo conjunto musical 5 Estrelas.
Tem saudades da comida goesa e das fruta como a papaia, manga, banana e jaca .
É uma pessoa de fé devido aos valores que foram transmitidos pelos ancestrais, principalmente dos pais e da avó Esmeralda . Ainda se recorda da Professora da Primária - Dona Lilia de Sousa - que era amiga da casa e donde lhe veio o gosto pela leitura e pelos estudos .
Guarda como uma grande recordação e traz sempre consigo uma fotografia da avó Esmeralda e do amigo Madonda que era o filho do cozinheiro .
Com a independência de Moçambique regressou a Portugal indo viver para Alcobaça em 1976 e nesse ano começou a dar aulas na Escola Preparatória em Mira d’Aire . Nessa localidade reiniciou a actividade de badminton onde foi promotor .
Quando conseguiu o licenciamento para abertura de uma farmácia nas Abitureiras na freguesia de Santarém veio residir para esta cidade. Teve sorte de nas proximidades onde estava instalada a farmácia existir um Complexo Desportivo onde lançou novamente o badminton nas camadas jovens .
Hoje já está reformado e vive em Santarém com a sua esposa .
Não gostaria de revisitar a Beira porque não iria reencontrar amigos, companheiros e familiares, apesar de enorme saudade que tem em cada grão de areia da cidade .



Entrevista conduzida por Maurino Silva
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VASCO FERNANDES




Nome : F. F. VASCO FERNANDES
Idade: 80 ANOS

Nasci na Beira em 1929, terra onde os meus país se estabeleceram em 1924. O meu pai era natural de Chandor e a minha mãe de Benaulim. Sou o mais velho de três irmãos, (Vasco, Astério e Hedwigo).

A minha infância passou-se na Rua Aires de Ornelas no Chaimite, onde nasci. Foi um tempo de traquinices e diabruras, em que a minha rua era o meu território e dos meus amigos (coitados dos “pequeninos”).

A minha casa, que ficava nas traseiras da residência do Governador, era o ponto de partida das minhas “aventuras”. Recordo-me de nomes como Virgílio Cristo, Antucho, Borges, Paulo Pereira, irmãos Picardo, Zeca Leão, António Simões (bolos), Bebé Medeiros, Dácio Oliveira, Solita, Olívia, Alice e outros que ficaram no tempo.

Lembro-me dos Domingos, em que nós e a família Dias (Simon e Bernardo) nos juntávamos e rumávamos à Praia Nova, onde a criançada se divertia na Montanha Russa (escorrega), baloiços e à beira-mar a encher baldes de amêijoas, para em casa, as nossas mães (Carlota e Luísa) prepararem um delicioso caril.

E as manhãs na Praia do Macúti…. Eram fantásticas! A maré baixa formava pequenos lagos que, para nós miúdos, era uma diversão pegada.

Para almoçar íamos à cantina do Rifa, que preparava as famosas galinhas à piri - piri e os passarinhos fritos.

Fiz a 4ª classe na Escola Eduardo Vilaça, e como não havia ensino secundário na Beira, as alternativas eram Lourenço Marques, Lisboa ou Goa.
Os meus pais optaram pelo ensino inglês na Índia, num colégio de Jesuítas (St. Stanislaus’ High Schoo) em Bandra – Bombaim.
St. Stanislaus School - Bandra - Bombay

Com onze anos, embarquei rumo à Índia, supervisionado por um amigo dos meus país (Sr. Menino Silva) no navio SS TILAWA, cuja história trágica se deu em 1942 (conforme excerto retirado da Internet):

“INDIAN OCEAN: in the November 23,1942, the 10,006 ton British India SN Company Passenger/cargo liner SS Tilawa, is torpedoed and sunk by Japanese submarine Hijms i-29 about 809 nautical miles (1 497 kilometers) north-notheast of the Seychelles Island in position 07.36N,6108E- The Ship is en route from Bombay, India, to Mombasa, Kenia, and Durdan, South Africa with 6 472 tons (6 116 metric tonnes) The explosion creates great panic among the native passengers who rush the lifeboats. The ship is carrying 222 crewmen, for gunner and 732 passenger. Of the 958 people on board, 252 passengers and 28 crew are lost. The British light cruser HMS Birmingham (19) rescues 678 survivors. (Jack Mckillop)

Durante as férias escolares, em Outubro e Maio ia à Goa. Divertia-me bastante, nadava e pescava no lago em Benaulim e no rio, em Chandor. Na companhia de amigos da aldeia, íamos aos coco -lanhos, mangas, cajus e frutos silvestre cujo nome….. ainda hoje não sei em português (em hindi – “carvandas”).
A minha passagem por este colégio permitiu-me conhecer jovens goeses provenientes de Niassalandia (Malawi), Kénia, Tanzânia, Beira e de Lourenço Marques.

Regressei à Beira em 1948. Empreguei-me na Beira Boating, onde tive a felicidade de encontrar a minha Lídia, com quem casei e fui abençoado com dois filhos queridos – Jaime e Ruth. Ambos estão bem e constituíram família.

Hoje, lembro com saudades o nosso dia-a-dia na Beira. Os cafés gelados no salão de Emporium / Scala / Riviera, as cervejolas no bar do Rifa, as galinhas à cafreal no Paraíso da Manga, os bifes no Oceana. Que vida sossegada !!!!!! Mais diria…. Que boa Vida!!!!!

Como nos divertíamos nas festas do CRIP e Oriental. Recordo-me da quermesse que fora instalada no terreno baldio ao lado do Oriental, outra no Jardim do Beira Terrace e também no CRIP. O pessoal divertia-se muito nestas festas….

Em 1959/60, tinha o meu Jaime 4 ou 5 anos, fomos passar as nossas “férias graciosas” a GOA/BOMBAIM. Lembro-me que assistimos a várias festas muito divertidas, mas a que mais gostei foi a Festa dos Reis, em Chandor. Na procissão apareciam os Reis Magos (crianças) montados em cavalos, seguros pelos pais; que cena hilariante! Depois, seguiu-se uma festa em casa, e à noite houve um baile num recinto improvisado.

Com a independência de Moçambique, em 25 de Junho de 1975, e como portugueses, sentimos e provámos a insegurança dos tempos onde os valores de sociedade foram alterados pela revolução política e social, imposta pela Frelimo e seus apoiantes. De 25 de Abril de 1974 até ao desembarque em Lisboa, em 6 de Agosto de 1976, decorreu um período de múltiplos sentimentos que iam desde a esperança na construção de um país novo e uma nova sociedade, até à perplexidade perante as arbitrariedades dos revolucionários e o mal-estar criado pelos mesmos.
O começo da minha vida em Lisboa foi um bocado duro. Tive um restaurante, fui vendedor de produtos de cosmética e finalmente empreguei-me numa firma de prestação de Serviços, onde permaneci até me reformar.

Tenho muita consideração e dou os parabéns ao grupo que teve o carinho e a iniciativa de promover o ENCONTRO DOS SÉNIORES a 11 de Outubro de 2208, que foi muito reconfortante. A confraternização trouxe muita alegria às pessoas amigas que há muito que não se viam.

Gostaria de revisitar a Beira, mas ao mesmo tempo evito para não sofrer uma desilusão.
Assim, vai ficar na minha memória a Beira dos meus tempos!..

Alverca, 17 de Abril de 2009

Entrevista conduzida por Lourdes Fernandes.
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Cláudio Sousa


Nome: Cláudio Sousa Natural de Marromeu
Idade - 78 anos

O nosso entrevistado é o Sr. Cláudio Sousa de 78 anos natural de Marromeu –Moçambique.
Com 9 anos foi para Pangim- Goa estudar no Colégio D. Berta Costa tendo mais tarde aos 18 anos ingressado no People's School's. Como pessoa de fé, ainda se lembra das festas de S. Francisco Xavier na Velha Goa e da Nossa Senhora da Imaculada Conceição em Pangim .

Devido ao clima tropical em Goa e a simplicidade do povo, vestia-se modestamente. Na gastronomia ainda se lembra das comidas típicas goesas como o balchão , buche, sarapatel e os famosos chouriços de Goa que lhe trazem saudades e agua na boca . Em 1952 e com 21 anos de idade regressa a Moçambique, mais precisamente para a Beira, onde após concurso começa a trabalhar na Alfândega..

Na Beira morava no centro com as suas irmãs perto dos Leilões a Minhota e do prédio da Sofer,. Era frequentador assíduo dos clubes Oriental, CRIP e Operários Goeses.
Profissionalmente cumpriu uma comissão de serviço na Alfandega tendo sido posteriormente destacado para Vila Cabral por um ano regressando mais tarde para a Beira.

Tem na memória, com uma certa nostalgia, a Estação dos Caminhos de Ferro onde trabalhava pela Alfândega, do CRIP e do desporto preferido - o hóquei em campo – com a participação das equipas do Malawi. Também se recorda com saudade dos bailes do fim de ano no CRIP e nos Operários Goeses, onde as senhoras trajavam lindamente os vestidos compridos e os homens de smoking bem como os bailes de Carnaval que eram muito animados com os foliões vestidos a preceito.

Na Beira encontrou uma grande convivência e amizade entre os goeses, equiparada a uma grande família. Recorda-se também da procissão de velas de Nossa Senhora de Fátima cujo percurso ia da Catedral até à Igreja de Nossa Senhora de Fátima e das cheias do rio Zambeze em Marromeu.

Um dos episódios marcantes da sua vida foi com um grupo de jovens, entre eles o seu irmão Mário para um aniversário no Luabo de barco e à volta vieram de almadia porque o Mário tinha falecido. Esse momento ficou retido para sempre na sua memória do qual ainda se recorda com tristeza.De novo partiu para mais uma comissão de 6 meses desta feita para Nacala.
Com a independência de Moçambique veio para Portugal onde o modo de vida, o clima e a gastro-nomia eram totalmente diferentes. Teve muita dificuldade em se adaptar ao clima devido ao inverno ser muito frio e rigoroso e o verão muito quente e seco.
Recomeçou a trabalhar na Alfândega de Lisboa, encontrando-se hoje reformado.

Vive na Colina do Sol - Pontinha com a sua esposa Marciana Fernandes, local onde me recebeu e relatou as suas vivências. Revisitar o país de origem não faz parte dos seus planos dado já não ter saúde capaz para se deslocar em viagens. Ao terminar esta entrevista agradeceu por se terem lem-brado dele e desejou à organização do 9º Encontro dos Beirenses as maiores felicidades e que a festa do dia 23 de Maio seja um sucesso .

Entrevista conduzida por Maurino Silva -14.04.2009
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José Carmino Fernandes




Nome: José Carmino Fernandes
Residente na cidade de Setúbal.
Natural de Batim - Goa
Nascido em 27 de Abril de 1933
Reformado da Administração Pública- Contribuições e Impostos


José Carmino Fernandes, teve como percurso, Goa, Moçambique e Portugal. A primeira emigração foi aos 24 anos em Outubro de 1957. Embarcou no Porto de Mormugão, juntamente com dez colegas no navio “Timor” rumo a Moçambique, fez escala em Dar-Es-Salam-Tanganica, Karachi-Paquistão, onde mudaram para o navio “Karanja”, que cumpriu a seguinte rota :- Mombaça - Kénia, Sultanato de Zanzibar; Beira; Lourenço Marques e finalmente Beira, onde desembarcou.
A viagem correu bem... uma maravilha!!


Are, Baii, quitem go?
“A vida em Goa era de miséria. Sabes, em Goa não havia emprego . Embora fosse funcionário público dos CTT, o vencimento de 80 rupias não chegava para ajudar a minha Mãe e Irmãos” além do chá Panim só dava para comer (baji-puri e bojás), daí a necessidade de procurar melhores condições de vida.”
Carmino quando chegou à Beira, não encontrou embaraços, sentia-se satisfeito, encontrou até alguns amigos de Goa. O trabalho que lhe estava destinado, bem como a relação com os colegas e os chefes de então, eram escorreitos.
Fazendo uma retrospectiva aos acontecimentos marcantes e especiais, Carmino lembra-se do baile de Carnaval de 07/02/1959, na cidade da Beira, nos “Goanos” – Clube dos Operários Goeses, “porque me foi apresentada pela saudosa Lúcia Ferrão, uma moça bem formosa e charmosa, mascarada de fada com um vestido azul, de nome Bebiana Costa”
Quando cheguei à cidade da Beira, fiquei hospedado alguns dias na pensão Glória”, por indicação de um conterrâneo amigo. O quarto não tinha condições de habitabilidade, tinha constantemente um cheiro contínuo, desagradável e intoxicante…olha parecia-me que era “criolina”. Passado alguns dias, por indicação do conterrâneo atrás referido, veio ao meu encontro um desconhecido indicando-me um local onde ficar. Surgiu outra oportunidade de mudança, aí então fui viver para outro quarto alugado que por sinal até gostei. Ficava bem localizado e, por coincidência, junto ao meu local de trabalho Administração Civil, (mesmo na baixa).

Passados alguns meses fomos viver para a Manga, localidade distante da zona da baixa, onde permaneci algum tempo, até que alugamos uma casa ao lado do “Manga Comercial” onde criamos uma “República” composta por quatro elementos: Vasco Lima Fernandes, Orlando Avertino Barreto, o José Fernandes e eu próprio, claro!!..tratava-se de um casario com vários quartos, quintal, jardim….uma autêntica mansão!!! Aí organizamos uns dois ou três bailes!!!!
Mais tarde, quisemos mudar de ambiente, pegamos nas trouxas e fomos morar para uma zona situada atrás da garagem do governador da Beira. Juntaram-se a nós, mais dois elementos: o Artur Vaz e o Pedro Costa e não contentes em continuar neste local, alugamos um apartamento, junto ao armazém “ Búzi Comercial”, onde também se juntou a nós o Camotim…foram muitas voltas (…nessa altura conheci a Bebiana,( minha esposa ) …. depois eu o Pedro Costa, Artur Vaz e Orlando Barreto mudamos para a casa do Nicolau Silva..
Nesse ano romântico de 1961 decidimos casar a 29 de Abril (após 2 anos de namoro). Foi o inicio de um novo ciclo nas nossas vidas......, fomos viver para o Dondo, que ficava a 30 Km da Beira, onde permaneci quase um ano.
A despedida e a separação relativamente à família da noiva foi muito emocionante, o meu digníssimo sogro João Manuel da Costa acompanhou-me na viagem e uma vez chegado ao destino, ficou radiante por ver o casarão com um grande quintal e jardins.….,
A 22 de Janeiro 1962, nasceu a São a minha primeira filha .
Nessa altura fui colocado na Administração Civil da Beira e a Bebiana, após concurso, foi colocada na Administração do Concelho e, posteriormente , nos Caminhos de Ferro de Moçambique.
Na cidade da Beira, já casados e com uma filha vivíamos no prédio Esquimó (dos gelados), onde baptizamos a n/filha São. Tivemos várias mudanças de casa :Prédio da Sapataria Solex no Maquinino e por fim foi-me atribuída uma das cinco moradias mandadas construir pelo Governo Civil da cidade da Beira , junto ao cinema São Jorge- -Ponta Gea
Ai e como já tínhamos mais espaço resolvemos aumentar a nossa prol e tivemos mais duas filhas, a Carmen e a Xana.
A segunda emigração deu -se em 1976, quando Carmino veio para Portugal. A diferença que sentiu, foi em relação ao clima “Aqui um tipo tem que vestir muitas camisolas, para se agasalhar… também não me apercebi das diferenças comportamentais, fui bem acolhido neste País, … tinha trabalho e isso foi sempre algo edificante para construção da minha vida.
Culturalmente também já não sente grande diferença quer na gastronomia, modo de vida, indumentária, tradições, pois foi sempre reajustando o seu modo de vida.
Em Goa, os lugares que me trazem alguma nostalgia :”Quando nós (grupo de amigos) reuníamos na esquina do Clube Nacional e alugava uma bicicleta para dar uma passeio junto à marginal… ia de Caranzalém até Dona Paula…nos tempos de estudante lembro-me que ia até à casa da minha avó fazer o turismo rural e comer mangas, cajus e outros frutos…
J .C.F., pessoa de fé, católico e praticante, recorda que assistia missa em latim Em Portugal sente essa lacuna, bem como a a necessidade de falar o Concanim, “hoje em dia não tenho com quem falar”…Recorda também que quando partiu para Moçambique, a Mãe lhe dera algo simbólico e de Fé que o tem acompanhado sempre. "Quando eu saí de Gôa a minha Mãe ofereceu-me um quadro onde estão coladas seis estampas de santinhos: São José, Sagrado Coração de Jesus, Nº Srª da Conceição, Nª Srª do Perpétuo Socorro, Padre Agnelo, com a recomendação expressa de dedicar as jaculatórias ali contidas.
Este quadro sempre esteve comigo e em lugar de destaque, representando sempre um sinal de Fé.”
Actualmente, não gostaria de revisitar a Beira, pois nos últimos tempos, antes da minha vinda para Portugal, as atitudes e as politicas do partido governante não foram as mais correctas e isso não me deixou saudades… voltar a Goa definitivamente também não … por motivos de saúde, sinto mais segurança aqui, apesar das saudades serem muitas…
De Goa, Carmino recorda com uma certa nostalgia das festas de Nº Srª de Imaculada Conceição e as de São Francisco Xavier, partilhando com devoção o seu culto, por este ser pobre, Santo Padroeiro de Goa e, por sinal também, Padroeiro da cidade que escolheu para viver – Setúbal.
Era tarde, um chá, uma fatia de bebinca, doce tradicional goês, uma mostra rica em artefactos concebidos pelo próprio, ligados ao culto de São Francisco Xavier, abraços muito afectuosos do Carmino e Bebiana marcaram o fim deste relato/entrevista.

Lucinda Fernandes (20/9/2008)
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Nicolau Silva





Nome: Nicolau Silva
Idade: 80 anos

“Nasci na Beira a 2/2/1928. Vivi com os meus pais e irmã no bairro de Maquinino, perto de S.L.B. (Sport Lisboa Beira) até aos 11/12 anos. Completada a 4ª classe e porque não havia Liceu na cidade da Beira, prossegui os meus estudos em Lourenço Marques onde estive até 1947.”
Começou a trabalhar aos 19 anos segundo conta Nicolau “Regressado à Beira, empreguei-me na firma UNION-CASTLE LINE que mais tarde se incorporou na firma MANICA TRADING. Assegurada a minha estabilidade económica, casei-me com a Irene em 1962”
O casamento trouxe – me uma “lufada de ar fresco” “Passamos a viver, primeiro, no Esturro em casas alugadas e mais tarde adquirimos uma em Matacuane no bairro dos Escritores. Sou pai de Daniel e Vítor e avô de 3 netos, todos rapazes”,
conta com orgulho, não escondendo o seu desejo ter mais netos rapazes.
“Enquanto jovem fiz muito desporto e o futebol foi sempre a minha grande paixão. Iniciei o meu percurso desportivo em 1946 em Lourenço Marques integrado na equipa de juniores do CLUBE DESPORTIVO INDO-PORTUGUÊS.”

Ao falar do seu percurso e da importância que o desporto teve na sua vida, recorda o símbolo do CRIP como uma imagem de marca, que lhe causa alguma nostalgia “Na Beira tive o privilégio de ter representado o CENTRO RECREATIVO INDO-PORTUGUES (CRIP - como era conhecido) durante 2 décadas, nas seguintes modadlidades: Atletismo, Basquetebol, Bilhar e Futebol. Também pratiquei ténis e futebol de salão.”

“Fui eleito “DESPORTISTA DO ANO” EM 1958, como futebolista, num concurso organizado pelo jornal "DIARIO DE MOÇAMBIQUE".

Em 1979,fui galardoado com a “BOLA DE PRATA” .Tributo à minha longa carreira futebolística e que jamais esquecerei, com destaque para a dedicatória :“Ao Nicolau Silva – Homenagem do CRIP e Simpatizantes – GRATIDÃO”
"Fui jogador do clube com mais presenças na Selecção da Beira em dois lugares distintos (Guarda-Redes e Avançado).

Deixei o futebol de competição aos 33 anos e passei a treinar das equipas do clube em juniores e seniores. Ainda hoje,quando revejo o meu passado desportivo, sinto uma pontinha de vaidade, primeiro, porque julgo ter atingido quase todos,senão todos os objectivos a que me tinha proposto, e segundo porque penso ter sabido dignificar a camisola do clube com orgulho, brio e dedicação”.

Relativamente aos acontecimentos marcantes, relata-nos um episódio, antes da sua despedida da Beira, “ (…) passado aquando do meu último dia. Quando, pela última vez dei a volta a chave na porta para seguir viagem, senti uma coisa estranha dentro de mim. Tive um acesso de choro que me deixou completamente descontrolado. Voltei para dentro e chorei, chorei, chorei. Foi, não tenho dúvidas, um acontecimento muito especial e marcante na minha vida.”

À chegada a Portugal, o futuro não se avizinhava fácil. Desde a dificuldade em conseguir encontrar um emprego estável, até à separação da restante família, teve de lutar muito… “Em 1976 e após a independência de Moçambique, deixamos a Beira rumo a Portugal para refazer as nossas vidas. Não foi fácil, porque refazer uma nova vida não se faz de um dia para o outro. A Irene, minha esposa e os meus filhos vieram primeiro tendo sido alojados pela I.A.R.N. numa pensão na Praia de Santa Cruz em Torres Vedras. Dois meses depois, cheguei eu, e fui recambiado para Moledo do Minho, juntamente com mais dois casais, também da Beira, pois não havia hipótese de ficarmos todos juntos em Torres Vedras.”
A minha fé, contudo, acabou por se revelar um valor precioso: “Foram tempos difíceis, mas entretanto e como sou pessoa de Fé, a vida foi-se compondo e hoje, GRAÇAS A DEUS cá estamos com saúde.”


Apesar de ter nascido na Beira, Goa sempre foi um local de referência “Goa”, propriamente não conheço muito bem. Como GOÊS que me prezo, sempre fiz questão de conhecer as minhas raízes e por essa razão já lá estive 4 vezes mas sempre para gozar umas merecidas férias junto dos meus familiares; e o balanço final dessas visitas não poderia ser melhor. Curiosamente quando lá estive em 1960, participei nalguns jogos na equipa de Académica de Pangim, ainda GOA era Portuguesa”, não esquecendo uma das suas paixões, o Futebol.
Revisitar o país de origem faz parte dos seus planos pois “ (…) foi a terra que me viu nascer, crescer e onde me fiz homem. Foram tantos os momentos e as emoções!. A vida, naquele tempo era diferente, todos se conheciam e se respeitavam e existia uma atmosfera de verdadeira harmonia.”
Entrevista realizada em 19/9/2008 e conduzida pela Ana Sofia Bragança
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Natividade Estrócio

NOME: Natividade Estrócio
IDADE: 81 anos
PROFISSAO: Reformada

A D. Natividade Estrócio recebeu-me em sua casa com um sorriso que lhe é característico, para uma conversa de fim de tarde.

Natividade Estrócio, filha de pais Goeses nasceu em 1927, em Moçambique na vila de Buzi (distrito da província de Sofala). Define-se como uma pessoa de fé, que se reflecte na forma como fala!

Iniciou os seus estudos na vila onde nasceu e frequentou, uma escola na cidade da Beira. Posteriormente, prosseguiu os estudos no estrangeiro, onde aprendeu Inglês. Após esse tempo, regressou a Moçambique e, em 1975/6 deu-se a vinda para Portugal.
Natividade conheceu Goa, com apenas seis meses:
“ fui acompanhada pela minha mãe e um dos meus irmãos, que tinha 5 anos. O meu pai ficou em Moçambique, pois o trabalho assim o exigia. Não tenho recordações de Goa...era muito pequena!”

Natividade tinha familiares no estrangeiro, onde seria possível prosseguir os estudos com maior facilidade, dada às dificuldades monetárias sentidas na sua terra natal. Permaneceu alguns anos fora, tendo regressado mais tarde.
Ao perguntar a Natividade em que ano e quais os motivos que a levaram a vir para Portugal respondeu-me com uma certa nostalgia: “viemos em 1975/6...como todos vieram, também vim! Primeiro veio a Aurea e o Luís (irmã e cunhado da entrevistada), depois veio o António (irmão), depois vim eu, sozinha, e por fim a minha mãe.”
Natividade sentiu algumas dificuldades quando chegou a Portugal, dizendo: “Senti todas as dificuldades que outros conterrâneos também sentiram...não ter dinheiro, não saber para onde ir, não ter casa....bem, mas fui viver para a Ericeira, onde estava um irmão meu, que tinha chegado a Portugal uma semana antes de mim.”

Ao questionar esta nossa conterrânea se tem presente algum acontecimento especial e marcante, que gostasse de revelar e partilhar, Natividade não hesita “tenho muitas, muitas histórias “lindas”! Vou contar-te uma. Uma das possibilidades de fazer o percurso do Buzi para a Beira é através de barco, pelo rio. A travessia leva cerca de três ou quatro horas. Este rio, enchia-se e esvaziava-se muito repentinamente. Estava um tempo bom...um lindo dia de sol. Ao fazer uma travessia de barco, e ao passar pela foz, as ondas eram de cerca de dois metros. De repente, uma onda abate ...o barco bate fortemente sob a água do rio...as pessoas gritavam, deitadas no chão do barco e eu...subi no assento e estiquei os braços a prender o tecto...Ao olhar pela janela, via as ondas, parecendo que iam entrar no barco...todos queriam voltar para trás, o que não poderia acontecer pois o barco poderia afundar-se ao fazer a manobra. Assim, a viagem prosseguiu, chegando sãos e salvos ao porto da cidade da Beira (Cais Manarte). Teria eu uns 18 ou 20 anos de idade....não me lembro!!!” Havia outras possibilidades de fazer a travessia de Buzi para a Beira. Natividade lembra “ de avião leva-se 8 a 10 minutos e de carro, tal como de barco, cerca de 3 ou 4 horas. Todas elas eram agradáveis...se fossemos de barco, era possível ver-se jacarés e hipopótamos...se fosse de carro, macacos...todos os percursos eram muito bonitos”.

Na cidade da Beira, morou em Matacuane. No Buzi trabalhou no comércio que o seu pai tinha. Em relação ao seu quotidiano não havia muitos afazeres “Era muito monótono, convivia com os vizinhos. Eram todos como família. Gostava de ir ver o Rio Buzi, que ficava perto....era muito bonito!”

Lembra-se com saudade dos períodos do dia,.na vila de Buzi “Tomar o café da manhã, a olhar para os coqueiros, na minha varanda. O nascer do sol....os raios a bater nas folhas do coqueiro parecia prata. As noites de luar eram maravilhosas. Um espectáculo que só visto!” E diz suspirando “recordo-me com muita saudade”

Quando chegou a Portugal, comparativamente aos locais por onde passou sentiu tristeza “....tudo era diferente.” Contudo, foi em Setúbal que encontrou alguma “paz”. “Em Setúbal as pessoas foram muito acolhedoras....às vezes não sabia o que fazer para nos agradar. E isso era uma coisa que me comovia”
Culturalmente não sente grandes diferenças. Recorda-se das festas de Natal em Moçambique referindo “No princípio não tinhamos igreja, mas ao ser construída passamos a assistir à Missa do Galo. Ao almoço, comíamos sempre leitão assado...era o meu pai que matava!...Eu comia pouco...era muito magriça (sorriu)!!!!

Natividade gostaria de revisitar a vila de Buzi “Porque foi a terra onde nasci...faz parte da minha vida, quer eu queira, quer não!”

Não considera a possibilidade de um dia voltar à sua terra natal, referindo “agora não, pois já estou com oitenta e um anos!” ....Mas nada parece...os 81 anos de Natividade Estrócio passam despercebidos....o seu andar jovial e a sua forma serena de falar e relatar as suas vivências, disfarçam bem a idade que tem. Natividade....bem haja!

Por
Elizabete Alexandra Costa Fernandes (Xana)